Aprendemos, desde que nos entendemos por gente, que a Abolição da escravidão negra no Brasil se deu em 13 de maio de 1888, por meio de um decreto da Princesa Isabel, na regência do Império à época. "Libertaram" os africanos e descendentes escravizados sem qualquer politica pública para acolhê-los, agravado pelo fato de não poderem ter acesso a terras nem frequentar escolas.
Oportunidades de trabalho eram escassas, e quando os ex-escravos e seus descendentes procuravam vivenciar sua cultura, com a capoeira, por exemplo, eram enquadrados pela "lei da vadiagem", criada especialmente para conter os recém-libertos. No meio da resistência a essa situação, nasceu o samba. E continua o processo de interdições (agora veladas, mas não menos efetiva) e resistência. A favela virou a senzala.
Não podemos nos esquecer que alguns anos depois da abolição da escravidão foi adotada uma politica de Estado de branqueamento da sociedade brasileira com a vinda de imigrantes europeus especialmente italianos e alemães.
Apesar do esforço em "branquear" o Brasil, em paralelo com a tese da "democracia racial" (felizmente, para o bem da verdade essa tese ruiu),o país viu crescer sua população negra e parda nos últimos anos, que hoje é maioria. Somos, portanto, o maior país negro fora da Àfrica.Atualmente, apesar de alguns avanços, o Brasil branco não fez as pazes com o Brasil negro. A cultura do colonizador europeu predomina, é mantida pelas elites a ferro e fogo. Que o diga os jovens negros mortos nas favelas e bairros periféricos por serem pretos.
Há toda uma sinalização extensa de que o Brasil se impregnou por um racismo estrutural - ancorado na experiência da escravidão - e esse fosso, antes escamoteado, está vindo cada vez mais à luz.
É preciso que o Brasil branco e o Brasil preto se encontrem, dancem juntos, se deixem interpenetrar. Que possamos a partir da rica e bela cultura africana e alguns avanços da cultura europeia, criar algo novo e belo, na direção de uma experiência humana de unidade na diversidade, na compreensão da riqueza e beleza do diverso, do humano que sonhamos para os novos tempos. E para avançarmos nesse encontro é preciso haver uma reparação, valorização e empoderamento crescentes do povo negro brasileiro e da cultura afro-brasileira, respeito aos quilombolas e seus territórios, respeito às cotas, às religiões de matriz africana... Assim, a dança se tornará possível.
Nós, da Nação Pachamama, acreditamos. Zulema Mendizabal